segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Quarto Andamento

Não atei o fio à meada. A leitura se dispersou em outras afinal. O que ficou foi uma sensação de incompletude. Um livro tem seu momento de ser lido. Uma pessoa tem seus momentos de distração, nos quais as palavras são apenas conjuntos de fonemas que sugerem um ritmo; são tantos os sentidos possíveis que brotam entre seus nexos que não sobra nenhum pra contar a história: melhor assim. Amanhã posso escolher outro objeto transcendente para projetar minhas inquietações.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

dilema

ao cair da noite, o momento é agora! ganas de correr nu pelas ruas.

vontade súbita de uns olhos pregados nos meus. a possibilidade de um corpo.

tudo que vem há de voltar, numa forma ou noutra: crua, ruminada ou digerida.

braços abertos dão guarida: vem pousar tuas asas no meu peito.


o amor! ou a loucura?

entre esperar a sorte de um amor tranquilo
e vivenciar a loucura que há no mundo
prefiro exclamar o amor em versos perdidos
e questionar a loucura num beijo profundo

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

hai-kai

melancolia:
delicada forma
de alegria.

domingo, 9 de setembro de 2007

Maré

Os olhos bóiam na superfície do mar,
Esquadrinham tudo a volta,
E tudo a volta é mar.

Tanto mar,
E a maré ou enche ou esvazia.
O segredo é o tamanho das ondas e suas durações.

Os olhos testemunham o movimento da maré:
Avanço ou recuo indistinguíveis
Num mundo sem medições.

O mar é tanto
Que cala no fundo
O mote do acalanto.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Terceiro Andamento

De quando em vez a leitura se apressa, em busca desenfreada pelo final. A sucessão de personagens acelera o ritmo da música. Em contraste com o momento anterior, Agualusa rege as vozes de seu coral multirracial com desenvoltura. O próprio regente introduz o terceiro andamento com uma figura histórica no plano das artes de Moçambique. A partir daí Bartolomeu faz seu solo, apresentando personagens como a sensual cantora de dezenove anos e o pianista sem mãos. A música ganha traços exóticos quando Agualusa narra seu encontro com um célebre cantor de outrora daquele país: um cego que via. Em breve passagem, Mandume abre-se por primeira vez à influência benfazeja do continente. Um certo cheiro de África enleva seus sentimentos. Os momentos finais do andamento trazem revelações. Fatos que pontuarão a última parte da música.