quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Viajei

Vi além do meu querer, esqueci o que tinha que esquecer,
Abrindo a facão picadas na mata da minha mente encalacrada,
Revelando trilhas desconexas e equivocadas
Sob a selva espessa da confusão.

Andei caminhos empoeirados de uma poeira limpa,
Que gruda no corpo sem sujá-lo, protegendo-o,
Livrando-o da bolha artificial de higiene na qual vive,
Lançando-o de pés descalços sobre o chão.

Da estrada de barro nos meus cabelos a poeira,
E a boa sensação de assim tocá-los e, depois,
Alisá-los sob a chuva de qualquer cachoeira,
Os cachos molhados do orvalho do algodão.

A neblina da manhã cinza e verde desce primeiro nos cabelos,
Arbustos encaracolados que plantei na cabeça, cheios,
Local da primeira mudança, o pico mais alto e solitário,
De onde percorrerá em mim a seiva da revelação.

Destilei angústias em grandes cipoais de fumaça,
Senti o rio da água do rio descendo a garganta,
Criando vales de nomes impronunciáveis no corpo,
Preparando-o, branco e magro, para a última transmutação.

Voltei para o lugar de quatro paredes onde como e durmo,
Sentindo-me novo e manso, qual lobo que vagueia sem rumo,
Na paciência de retornar de onde vim, de saber que, depois da visão,
Tranformar-me-ei, por inteiro, no próprio Vale do Capão.

Um comentário:

Suyá Lóssio disse...

muito linda essa poesia =]
é tua?