domingo, 1 de maio de 2011

O movimento do jogador no campo de futebol tem a mesma qualidade que o movimento das peças no tabuleiro de xadrez

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Azul
Cor do céu
Sem nuvens

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Caixas

A caixa preta pra coisa preta.

A caixa amarela pra fita dela.

A caixa azul a guiar pro sul.

A caixa vermelha se der na telha.

A caixa verde pra caiar parede.

A caixa branca pra coisa branca.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

faca de dois gumes

a faca que enfiei no seu coração
tem dois gumes...

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

insônia

são duas da manhã e você nem ligou
pra me tirar da insônia resoluta
que não me deixaria como me deixou
por causa daquela má conduta

depois do mel o sono na raiz da árvore
anoitecendo o instante malfazejo
em vez de realizar as mil vontades
conquistar apenas um desejo

domingo, 15 de agosto de 2010

o mundo

está morrendo aos poucos
com ouvidos moucos
sua morte planejada

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Assombro:
Um poema eclode
Do ovo da serpente.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

cabeça em farrapos

minha cabeça é cheia de loucos

que enchem de gritos roucos

o ar parado da noite


sopradores de ventos

furacões e amenos

conforme a prosódia da carne


poetas insanos

sutis e tirânicos

inspirados por musas voláteis


criadores do cosmo

cosmonautas do agora

em busca do quase nada


viajantes etéreos

comedores de luzes

hedonistas sem causa


pra quê dá-los nomes

se o que vestem são os farrapos da história?



terça-feira, 13 de outubro de 2009

poema inventado

sonhei um poema

que grudou na parede

depois de escapar pelo ouvido


meu corpo sonâmbulo

levantou em silêncio

loucomoveu-se em estrépitos

até a cozinha


abriu a gaveta

puxou uma faca

e voltou atrás dele


chegando no escuro

e de olhos fechados

vislumbrou o lagarto

reptilíneo poema

cinzento e obtuso


brandiu a lâmina

melodia obscena

cortando-lhe os pulsos


o lagarto faceiro

escorregou pela poça

do sangue negro da noite


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Cajazeiro

cajazeiro
meu olhar descansa sobre teu cenho
carregado de nuvens

neste inverno hibernas
como nos outros também
mas os outros são os outros
não são este
este é nosso
é agora

e aqui
onde paredes e grades e telas
amotinam-me os olhos
engabelam-me com a ilusão do trabalho
tu hibernas do lado de fora
único sítio capaz de receber o ímpeto
de suas raízes multifacetadas que não vejo
mas deduzo que assim sejam
pois vislumbro na primeira superfície do chão
suas formas retorcidas alegóricas

quando levanto da minha cadeira torturadora
pra buscar um copo de plástico com água
ou um copo de água com plástico
aproveito pra assomar pela porta dos fundos
como um morcego quase moribundo
que sofre os efeitos da luz invernal
ainda mais chapante pela brancura homogênea das nuvens
sobre o azul escondido do céu
e depois de descer um degrau
todo o campo de visão se abre
e tua presença absoluta se impõe nesse quadro

arvoro-me a descrever-te
cajazeiro fundador da placidez
árvore que esbanja altivez
com suas raízes tronco membros
ocultas forte vivos
sem começo ou fim
sem tempo
um espaço feito de madeira enrugada
cheia de camadas
cascas
que se renovam em seu processo interior
que não ousas revelar

tens em teu tronco
um coração que pulsa a seiva
fortaleza que só a estupidez traspassa

tens na seiva o teu maná
alimento que se dá
a teus quatro membros seminais
galhos ancestrais
na lida da sobrevivência
vento e águas subjugando

tens nos galhos o equilíbrio
inconteste e definitivo
tão preciso para as folhas sucumbirem
à sua languidez mutante

tens nas folhas o respiro
trocas essenciais pelos suspiros
que difundem pelos ares

tens o momento crucial
o motivo primordial de existires
o caminho natural simples telúrico
raízes tronco galhos folhas
culminando no retorno da semente

preso nas correntes da sociedade da informação
testemunhando pandemias inventadas
e consciências propositadamente alienadas
aguardo ansioso o verão
quando suas folhas verdes tranformar-se-ão
em folhas amarelas modificadas
ou frutas amarelas ovaladas
que protegem os cajazeiros vindouros
e alimentam os estupores
de uma mente em expansão

cajazeiro
então pedirei licença pra observar
o mundo inteiro se lambuzando de cajá