domingo, 30 de agosto de 2009

O corpo é a raiz da nuvem

Enquanto leio o apanhador divagando sobre patos no meio do sermão do professor, a voz do vendedor de cabides de madeira chega aos meus ouvidos através da janela aberta de sol: "Olha o cabide pra roupa, cabide pra roupa". No silêncio da manhã de domingo, sua voz ecoa no vale de prédios, as ondas sonoras ricocheteando nas armações de concreto.

Chego à janela e percebo que aquela voz é como o éter: espalha-se no espaço, ocupa-o mais que o corpo que a emite. Se eu não soubesse que era um corpo carregando, além da voz, uns quantos cabides de madeira pra roupa, eu escreveria que era um corpo modificado em parangolés, presos pelo fio invisível da voz que se alteia sobre o silêncio da manhã.

Mas a chuva que cai, imprevisível, logo depois, é o efeito dessa atuação, expressão que agora me falta, uma espécie de aboio de asfalto dirigido a um céu de janelas sem parapeitos. Um cantochão, nem fala nem canto, que ultrapassa minha surdez cínica e alcança um ouvido mais atento às coisas da terra.

O corpo, através de sua extensão sonora, a voz, é a raiz da nuvem, que se forma pelo acúmulo dessa força telúrica. Instável, ela volta em forma de chuva, pra lavar a marca daqueles passos firmes no asfalto quente e, assim, abrir o caminho pra passagem de outros corpos em parangolés do que seja entoando mantras ao sol.

6 comentários:

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..."

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..."

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..."

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..." você refere-se ao Apanhador dos Campos de Centeios. Continue escrevendo, pois todos os dias entro no seu blog.

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..." você refere-se ao Apanhador dos Campos de Centeios. Continue escrevendo, pois todos os dias entro no seu blog.

Anônimo disse...

"Enquanto leio o apanhador..." você refere-se ao Apanhador dos Campos de Centeios. Continue escrevendo, pois todos os dias entro no seu blog.